Renan
Ramalho e Vitor Matos
A
Câmara vai decidir se autoriza ou não o prosseguimento da denúncia. Temer é
investigado em caso de pagamento de propina da JBS.
Além
da condenação, Janot pede a perda do mandato de Temer, “principalmente por ter
agido com violação de seus deveres para com o Estado e a sociedade”.
É
a primeira vez que um presidente da República é denunciado ao STF no exercício
do mandato.
Com
a denúncia, fica formalizada a acusação contra Temer, que será julgada pelo
Supremo se a Câmara dos Deputados autorizar. A assessoria da Presidência
informou que o Palácio do Planalto não vai se manifestar.
Em
documento que acompanha a denúncia, Janot pede ao ministro Edson Fachin, relator
da Operação Lava-Jato no Supremo, que o caso só seja enviado à Câmara depois
que Temer e Rocha Loures apresentarem defesa prévia ao STF, o que deverá
ocorrer num prazo de até 15 dias após serem notificados.
No
mesmo inquérito que resultou na denúncia por corrupção passiva, o presidente
também é investigado por obstrução de Justiça e participação em organização
criminosa, mas, para estes casos, a PGR ainda não apresentou denúncia.
O
crime de corrupção passiva é definido no Código Penal como o ato de "solicitar
ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar
promessa de tal vantagem", com pena de 2 a 12 anos de prisão e multa, em
caso de condenação.
A
acusação preparada por Janot se baseia nas investigações abertas a partir das
delações de executivos da JBS no âmbito da Operação Lava-Jato.
Em
abril deste ano, o ex-deputado e ex-assessor do presidente, Rodrigo Rocha
Loures (PMDB-PR), foi filmado, saindo de um restaurante em São Paulo, com uma
mala contendo R$ 500 mil.
Segundo
a PGR, o dinheiro destinava-se a Michel Temer e era parte de propina paga pela
JBS para que a empresa fosse favorecida, por influência do governo, no Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (CADE), num processo para reduzir preço do
gás fornecido pela Petrobras a uma termelétrica da empresa.
Janot
diz que a vantagem indevida que, segundo a PGR, foi aceita por Temer e Rocha
Loures em troca do favorecimento totalizava R$ 38 milhões. Como somente teriam
sido entregues R$ 500 mil, o procurador-geral pede que o presidente seja
condenado a pagar R$ 10 milhões por reparação de danos e que Loures pague R$ 2
milhões.
A
denúncia diz que, "com vontade livre e consciente", Temer
"recebeu para si, em razão de sua função", o dinheiro da propina e
que as provas disso são "abundantes".
O
procurador diz que Temer e Loures devem ressarcir os cofres públicos por lesões
à ordem econômica, à administração da justiça e à administração pública,
"inclusive à respeitabilidade da Presidência da República perante a
sociedade brasileira".
Para
Janot, a ligação de Rocha Loures com Michel Temer foi atestada numa conversa
gravada, em março, na qual o presidente indica o ex-deputado como pessoa de sua
"mais estrita confiança" para um dos donos da JBS, Joesley Batista,
tratar problemas enfrentados pela empresa no governo.
Em
sua defesa, Temer diz que "simplesmente ouviu" reclamações do
empresário, sem conceder benesses do governo para ajudá-lo. O presidente tem
negado todas as acusações dos delatores e afirmado que não renunciará ao
mandato.
Como
o alvo é o presidente da República, a Câmara tem que autorizar, por votos de
dois terços dos deputados (342), a análise da denúncia pelos ministros do
Supremo. Se a Câmara não autorizar, o STF fica impedido de agir e o caso fica
parado.
Nessa
hipótese, a Justiça só poderá voltar a analisar as acusações depois que Temer
deixar a Presidência.
Caso
a Câmara autorize o prosseguimento da denúncia, os 11 ministros do Supremo
decidirão se abrem ou não processo contra Temer. Se aceitarem, ele viraria réu
e fica afastado do mandato por até 180 dias. Se após esse período, a Corte não
concluir o julgamento, Temer volta à Presidência. Ao final do processo, Temer
pode ser condenado e perder o mandato ou absolvido e continuar na Presidência.
‘Relação ilícita antiga’
A
denúncia ainda faz menção a outros episódios envolvendo Temer e Joesley
Batista, afirmando que a “relação ilícita” entre ambos “é antiga, habitual e
estável, estando longe, portanto, de uma relação episódica”.
Janot
lembra depoimentos de outros executivos da JBS na qual narram “relações
ilícitas” de Temer com a empresa. Em 2015, por exemplo, Temer teria atuado para
derrubar um embargo da Companhia Docas do Estado de São Paulo (CODESP) para
construção de um terminal de cargas da Eldorado, do mesmo grupo da JBS.
Além
disso, ainda com base nos depoimentos, diz que Temer recebeu R$ 1 milhão, de
uma doação de R$ 15 milhões destinada ao PMDB, retirados da propina do PT por
negócios obtidos pela empresa junto ao BNDES por intervenção do ex-ministro da
Fazenda Guido Mantega.
Por
fim, a PGR registra empréstimo de avião particular de Joesley, em 2011, para
Temer viajar a um resort de luxo localizado na Ilha de Comandatuba, na Bahia.
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