segunda-feira, 20 de março de 2017

LULA E O VELHO CHICO

LULA E O VELHO CHICO
Sebastião Costa*


Transpuseram o menino pobre no lombo de um pau-de-arara. O menino pobre tornou-se presidente para transpor água aos irmãos nordestinos que ficaram.

O rio São Francisco é o único grande rio puramente brasileiro.

Luís Inácio é o único presidente genuinamente nordestino.

O rio São Francisco nasce por entre os sovacos da serra mineira.

Luiz Inácio veio ao mundo em meio à aridez das brenhas pernambucanas.

Ao rio imenso deram-lhe o simpático nome de Velho Chico.

Ao metalúrgico irrequieto, o singelo nome de Lula

A visão nacionalista do gaúcho Getúlio doou ao Brasil as grandes estatais.

O espírito empreendedor do mineiro Juscelino construiu a capital dos brasileiros.

A convicção ditatorial dos militares impôs ao país a inutilidade da Transamazônica.

O sentimento solidário do pernambucano Lula levou ao Nordeste a sonhada transposição do rio São Francisco.

A magnitude, a visibilidade e a repercussão da obra atiçaram o instinto eleitoreiro de políticos sem uma gota de sensibilidade social.

Mas, quantos Cássios, Alckmins e Temers moraram em casa de taipa, viajaram de pau-de-arara, beberam água temperada com mijo de animal?

Quem neste país teria a coragem, a força e a determinação política de construir a maior obra social da história, sem ter sentido na boca a humilhação da sede, na barriga o vazio da fome?

Fosse o Velho Chico gente como a gente e carregasse no peito o sentimento de solidariedade, há muito tempo suas águas redentoras teriam encharcado as veredas esturricados dos grotões nordestinos.

Mas, como o rio não é gente, o jeito foi alguém com jeito de gente sertaneja fazer brotar no coração de milhões de nordestinos a felicidade de nunca mais sentir o gosto sofrido da sede.

* Médico pneumologista


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