Sebastião Costa*
Transpuseram o menino pobre no lombo de um
pau-de-arara. O menino pobre tornou-se presidente para transpor água aos irmãos
nordestinos que ficaram.
O rio São Francisco é o único grande rio
puramente brasileiro.
Luís Inácio é o único presidente
genuinamente nordestino.
O rio São Francisco nasce por entre os
sovacos da serra mineira.
Luiz Inácio veio ao mundo em meio à
aridez das brenhas pernambucanas.
Ao rio imenso deram-lhe o simpático nome
de Velho Chico.
Ao metalúrgico irrequieto, o singelo
nome de Lula
A visão nacionalista do gaúcho Getúlio
doou ao Brasil as grandes estatais.
O espírito empreendedor do mineiro
Juscelino construiu a capital dos brasileiros.
A convicção ditatorial dos militares
impôs ao país a inutilidade da Transamazônica.
O sentimento solidário do pernambucano
Lula levou ao Nordeste a sonhada transposição do rio São Francisco.
A magnitude, a visibilidade e a
repercussão da obra atiçaram o instinto eleitoreiro de políticos sem uma gota
de sensibilidade social.
Mas, quantos Cássios, Alckmins e Temers
moraram em casa de taipa, viajaram de pau-de-arara, beberam água temperada com
mijo de animal?
Quem neste país teria a coragem, a força
e a determinação política de construir a maior obra social da história, sem ter
sentido na boca a humilhação da sede, na barriga o vazio da fome?
Fosse o Velho Chico gente como a gente e
carregasse no peito o sentimento de solidariedade, há muito tempo suas águas
redentoras teriam encharcado as veredas esturricados dos grotões nordestinos.
Mas, como o rio não é gente, o jeito foi
alguém com jeito de gente sertaneja fazer brotar no coração de milhões de
nordestinos a felicidade de nunca mais sentir o gosto sofrido da sede.
* Médico pneumologista
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