Depois de articular o golpe de 2016, que
instalou Michel Temer no poder, a Globo decidiu rifá-lo com requintes de
crueldade.
A capa da revista Época deste fim de
semana, que pertence à família Marinho, utiliza recursos gráficos que tornam a
imagem de seu antigo pupilo semelhante à de um personagem satânico.
Em buscas no Google, Temer costuma ser
sempre associado à prática do satanismo.
Em editorial publicado em todos os seus
veículos, a Globo avisou que Temer terá que sair por bem ou por mal. "A
renúncia é uma decisão unilateral do presidente. Se desejar, não o que é melhor
para si, mas para o país, esta acabará sendo a decisão que Michel Temer tomará.
É o que os cidadãos de bem esperam dele. Se não o fizer, arrastará o Brasil a
uma crise política ainda mais profunda que, ninguém se engane, chegará,
contudo, ao mesmo resultado, seja pelo impeachment, seja por denúncia acolhida
pelo Supremo Tribunal Federal", diz o texto.
Confira
abaixo:
Editorial: A renúncia do presidente
Um presidente da República aceita
receber a visita de um megaempresário alvo de cinco operações da Policia
Federal que apuram o pagamento de milhões em propinas entregues a autoridades
públicas, inclusive a aliados do próprio presidente.
O encontro não é às claras, no Palácio
do Planalto, com agenda pública. Ele se dá quase às onze horas da noite na
residência do presidente, de forma clandestina.
Ao sair, o empresário combina novos
encontros do tipo, e se vangloria do esquema que deu certo: "Fui chegando,
eles abriram. Nem perguntaram o meu nome". A simples decisão de recebê-lo
já guardaria boa dose de escândalo.
Mas houve mais, muito mais.
Em diálogo que revela intimidade entre
os dois, o empresário quer saber como anda a relação do presidente com um
ex-deputado, ex-aliado do presidente, preso há meses, acusado de se deixar
corromper por milhões. Este ex-deputado, em outro inquérito, é acusado
inclusive de receber propina do empresário para facilitar a vida de suas
empresas no FI-FGTS da Caixa Econômica Federal. O presidente se mostra amuado,
e lembra que o ex-deputado tentou fustigá-lo, ao torná-lo testemunha de defesa
com perguntas que o próprio juiz vetou por acreditar que elas tinham por
objetivo intimidá-lo.
Ao ouvir esse relato do presidente, o
empresário procura tranquilizá-lo mostrando os préstimos que fez. Diz,
abertamente, que "zerou" as "pendências" com o ex-deputado,
que tinha ido "firme" contra ele na cobrança. E que ao zerar as
pendências, tirou-o "da frente". Mais tarde um pouco, em outro
trecho, diz que conseguiu "ficar de bem" com ele. Como o presidente
reage? Com um incentivo: "Tem que manter isso, viu?"
Não é preciso grande esforço para
entender o significado dessa sequência de diálogos. Afinal, que pendências,
senão o pagamento de propinas ainda não pagas, pode ter o empresário com um
ex-deputado preso por corrupção?
Que objetivo terá tido o empresário
quando afirmou que, zerando as pendências, conseguiu ficar de bem com ele,
senão tranquilizar o presidente quanto ao fato de que, com aquelas
providências, conseguiu mantê-lo quieto? E, por fim, que significado pode ter o
incentivo do presidente ("tem que manter isso, viu"), senão uma
advertência para que o empresário continue com as pendências zeradas, tirando o
ex-deputado da frente e se mantendo bem com ele?
Esses diálogos falam por si e bastariam
para fazer ruir a imagem de integridade moral que o presidente tem orgulho de
cultivar.
Mas houve mais.
O empresário relata as suas agruras com
a Justiça, e, abertamente, narra ao presidente alguns êxitos que suas práticas
de corrupção lhe permitiram ter. Conta que tem em mãos dois juízes, que lhe
facilitam a vida, e um procurador, que lhe repassa informações.
Um escândalo.
O que faz o presidente? Expulsa o
empresário de sua casa e o denuncia as autoridades?
Não. Exclama, satisfeito: "Ótimo,
ótimo".
Não é tudo, porém. Em menos de 40
minutos de conversa, o empresário ainda encontra tempo para se queixar de um
ex-funcionário seu, atual ministro da Fazenda.
Diz, com desfaçatez, que tem enfrentado
resistência no ministro da Fazenda para conseguir a troca dos mais altos
funcionários do governo na área econômica: o secretário da Receita Federal, a
presidente do BNDES, o presidente do CADE e o presidente da CVM.
Pede, então, que seja autorizado a usar
o nome do presidente quando for novamente ao ministro da Fazenda com tais
pleitos.
O que faz o presidente? Manda-o embora,
indignado?
Não, de forma alguma. O presidente
autoriza: "Pode fazer".
Este jornal apoiou desde o primeiro
instante o projeto reformista do presidente Michel Temer. Acreditou e acredita
que, mais do que dele, o projeto é dos brasileiros, porque somente ele fará o
Brasil encontrar o caminho do crescimento, fundamental para o bem estar de
todos os brasileiros. As reformas são essenciais para conduzir o país para a estabilidade
política, para a paz social e para o normal funcionamento de nossas
instituições. Tal projeto fará o país chegar a 2018 maduro para fazer a escolha
do futuro presidente do país num ambiente de normalidade política e econômica.
Mas a crença nesse projeto não pode
levar ao autoengano, à cegueira, a virar as costas para a verdade. Não pode
levar ao desrespeito a princípios morais e éticos.
Esses diálogos expõem, com clareza
cristalina, o significado do encontro clandestino do presidente Michel Temer
com o empresário Joesley Batista.
Ao abrir as portas de sua casa ao
empresário, o presidente abriu também as portas para a sua derrocada. E tornou
verossímeis as delações da Odebrecht, divulgadas recentemente, e as de Joesley,
que vieram agora a público.
Nenhum cidadão, cônscio das obrigações
da cidadania, pode deixar de reconhecer que o presidente perdeu as condições
morais, éticas, políticas e administrativas para continuar governando o Brasil.
Há os que pensam que o fim desse governo
provocará, mais uma vez, o atraso da tão esperada estabilidade, do tão almejado
crescimento econômico, da tão sonhada paz social.
Mas é justamente o contrário.
A realidade não é aquilo que sonhamos,
mas aquilo que vivemos. Fingir que o escândalo não passa de uma inocente
conversa entre amigos, iludir-se achando que é melhor tapar o nariz e ver as
reformas logo aprovadas, tomar o caminho hipócrita de que nada tão fora da
rotina aconteceu não é uma opção. Fazer isso, além de contribuir para a
perpetuação de práticas que têm sido a desgraça do nosso país, não apressará o
projeto de reformas de que o Brasil necessita desesperadamente. Será, isso sim,
a razão para que ele seja mais uma vez postergado.
Só um governo com condições morais e
éticas pode levá-lo adiante.
Quanto mais rapidamente esse novo
governo estiver instalado, de acordo com o que determina a Constituição, tanto
melhor.
A renúncia é uma decisão unilateral do
presidente. Se desejar, não o que é melhor para si, mas para o país, esta
acabará sendo a decisão que Michel Temer tomará. É o que os cidadãos de bem
esperam dele.
Se não o fizer, arrastará o Brasil a uma
crise política ainda mais profunda que, ninguém se engane, chegará, contudo, ao
mesmo resultado, seja pelo impeachment, seja por denúncia acolhida pelo Supremo
Tribunal Federal.
O caminho pela frente não será fácil.
Mas, se há um consolo, é que a
Constituição cidadã de 1988 tem o roteiro para percorrê-lo. O Brasil deve se
manter integralmente fiel a ela, sem inovações ou atalhos, e enfrentar a
realidade sem ilusões vãs. E, passo a passo, chegar ao futuro de bem estar que
toda a nação deseja.
Nenhum comentário:
Postar um comentário