segunda-feira, 22 de maio de 2017

Só Eleições Diretas conseguem ser linha de partida para país sair do caos

Sábado, 20 de maio de 2017

Só Eleições Diretas conseguem ser linha de partida para país sair do caos

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Quem diria, o cara da JBS, a qual encheu a direita de tantas lendas urbanas sobre o filho do Lula, praticamente selou a sorte desse desgoverno, que se animava com obtenção de índices tão frágeis quanto sua própria conjuntura.
O Ministro do Supremo determina a instauração de inquérito contra o presidente, para apurar se ele, de alguma maneira, teria colaborado para comprar o silêncio do anjo caído, Eduardo Cunha, que urrava das profundezas do inferno para onde foi lançado; sempre há um séquito de canalhas bajuladores que, em troca de vinte e um dinheiros, estaria pronto para qualquer serviço sujo para dar um cala-boca nesse satã arrivista.
Uma gravação era e é o mote da investigação. O Presidente da República recebeu em sua casa oficial, diga-se, um palácio, um sinistro empresário, que, à sombra e água fresca dos governos petistas anteriores, experimentou uma bonança jamais vista, casou-se com uma mulher lindíssima, construiu uma mansão de dobrar no horizonte, levando uma vida de fazer inveja a muitos xeiques árabes.
Tanta grana fez dele uma lenda viva e a lenda estava enroscada em várias operações pictóricas da Polícia Federal. A possibilidade de vir a ser preso e ser apartado de seu mundo maravilhoso o fez lançar-se aos braços das feras e a fazer um acordo com os antecipadores do apocalipse pagão: o julgamento de todos e a separação entre os que delatam e os que são delatados. Tudo é uma corrida de espertezas, quem chegar na frente, delata e é solto, viaja para onde quiser, com direito a cumprir seu retiro nas mansões em que vive.
O script inicial era para pegar apenas um, que continua resistindo a ser pego e que luta ferozmente por sua liberdade. Tudo o que se fez foi para enjaulá-lo, tudo o que se produziu foi para exibi-lo aos ferros, algemado, no Jornal Nacional. Acusações de tolice irrebatível se tornaram falsos casos criminais, legiões de pessoas foram ouvidas, para, em torno do nada, buscar-se um pretexto para a prisão do líder popular. Tripudiou-se sobre a memória de sua esposa, fantasiou-se sobre seus filhos, produziu-se o mais farto material de destruição pessoal já posto nas mídias no Brasil e, diria, no mundo.
As ilegalidades mais grosseiras se praticaram, a ponto de inventarmos uma condução coercitiva que nos coloca a todos, jurisdicionados, na condição de sermos eventualmente sequestrados e levados, por forças estatais, para uma delegacia de polícia qualquer, levados a depor normalmente sobre algo que nos prejudicaria e muito. Podemos ser sequestrados para fazer prova contra nós mesmos, sob pena de, não o fazendo, vir a sermos processados por não havermos produzido a prova que nos incriminaria, a gosto dos acusadores.
O Presidente Interino usurpou o cargo, tomando-o de sua titular, mas – nessa terra arrasada, os perseguidores viram a possibilidade de tomarem eles próprios o poder – tudo deu errado. A matilha se rebelou, os ossos se dilaceraram na mesa de jantar e ninguém mais confia em ninguém. Destruiu-se tudo e o grande alvo ainda não foi abatido. Os Estados Unidos destruíram um país inteiro para matar Osama Bin Laden, mas era um país distante e misterioso aos padrões de Miami/Texas. Fariam o mesmo se ele permanecesse em solo americano?
O Brasil foi destruído. Não temos mais legalidade e os tribunais se converteram em templos do senso comum, o discurso jurídico desapareceu. Hoje, é possível a um leigo substituir um juiz criminal porque o juiz criminal nada tem a diferenciar sua análise daquela formulada por um motorista de táxi, por exemplo.
Há um troféu imaginário em disputa, que seduz muitos deles, de ser considerado o mais rigoroso, o mais injusto, o mais bestial, os juízes humanitários perdem espaço a cada dia. Tornou-se proibido ter compaixão.
Nessa destruição da legalidade, um inquérito policial é instaurado contra o presidente da república, ainda que seja esse que temos, sem antes sequer lhe dar a chance de falar. O dólar vai às alturas, a Bolsa de Valores fecha porque o presidente vai ser investigado sobre fatos que ele desconhece em sua extensão, de diálogos gravados, por quem admitiu encenar um pequeno teatro, previamente estabelecido.
O Presidente da República, no Brasil, é tão sem direitos quanto nós; está à mercê, como nós, de uma vontade tutelar, superior, que pode prender, deixar de soltar, para soltar apenas, não mais como gesto libertário, mas, como manifestação de poder. O Presidente da República está exposto, visceralmente exposto e isso não pode ser bom. Ele que esteja sob as leis, por suposto, mas exposto, assim, não, não se regozijem. Aos que festejaram, que fique a ressaca moral por termos nos divertido com nossa própria catástrofe.
Tudo destruído, o refazimento somente será possível com novas eleições, não apenas presidenciais, mas gerais, para reorganizarmos o país, para conseguirmos estabelecer uma linha de partida. Sem acordões, que desrespeitam bases e pensamentos. Os acordões nos custaram tudo isso que estamos vivendo.
O retorno à legitimidade será doloroso e nos exigirá que as identidades se preservem, que sejamos, pela primeira vez em nossa História, sinceros intelectual e moralmente.
Que o voto seja facultativo; isso seria um recomeçar. Um recomeçar, de onde jamais estivemos.
Roberto Tardelli é Advogado Sócio da Banca Tardelli, Giacon e Conway.
Fonte: Justificando

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