Sábado, 20 de maio de 2017
Só Eleições Diretas conseguem ser linha de partida para país sair do caos
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Quem diria, o cara da JBS, a qual encheu a direita de tantas lendas urbanas sobre o filho do Lula, praticamente selou a sorte desse desgoverno, que se animava com obtenção de índices tão frágeis quanto sua própria conjuntura.
O Ministro do Supremo determina a instauração de inquérito contra o presidente, para apurar se ele, de alguma maneira, teria colaborado para comprar o silêncio do anjo caído, Eduardo Cunha, que urrava das profundezas do inferno para onde foi lançado; sempre há um séquito de canalhas bajuladores que, em troca de vinte e um dinheiros, estaria pronto para qualquer serviço sujo para dar um cala-boca nesse satã arrivista.
Uma gravação era e é o mote da investigação. O Presidente da República recebeu em sua casa oficial, diga-se, um palácio, um sinistro empresário, que, à sombra e água fresca dos governos petistas anteriores, experimentou uma bonança jamais vista, casou-se com uma mulher lindíssima, construiu uma mansão de dobrar no horizonte, levando uma vida de fazer inveja a muitos xeiques árabes.
Tanta grana fez dele uma lenda viva e a lenda estava enroscada em várias operações pictóricas da Polícia Federal. A possibilidade de vir a ser preso e ser apartado de seu mundo maravilhoso o fez lançar-se aos braços das feras e a fazer um acordo com os antecipadores do apocalipse pagão: o julgamento de todos e a separação entre os que delatam e os que são delatados. Tudo é uma corrida de espertezas, quem chegar na frente, delata e é solto, viaja para onde quiser, com direito a cumprir seu retiro nas mansões em que vive.
O script inicial era para pegar apenas um, que continua resistindo a ser pego e que luta ferozmente por sua liberdade. Tudo o que se fez foi para enjaulá-lo, tudo o que se produziu foi para exibi-lo aos ferros, algemado, no Jornal Nacional. Acusações de tolice irrebatível se tornaram falsos casos criminais, legiões de pessoas foram ouvidas, para, em torno do nada, buscar-se um pretexto para a prisão do líder popular. Tripudiou-se sobre a memória de sua esposa, fantasiou-se sobre seus filhos, produziu-se o mais farto material de destruição pessoal já posto nas mídias no Brasil e, diria, no mundo.
As ilegalidades mais grosseiras se praticaram, a ponto de inventarmos uma condução coercitiva que nos coloca a todos, jurisdicionados, na condição de sermos eventualmente sequestrados e levados, por forças estatais, para uma delegacia de polícia qualquer, levados a depor normalmente sobre algo que nos prejudicaria e muito. Podemos ser sequestrados para fazer prova contra nós mesmos, sob pena de, não o fazendo, vir a sermos processados por não havermos produzido a prova que nos incriminaria, a gosto dos acusadores.
O Presidente Interino usurpou o cargo, tomando-o de sua titular, mas – nessa terra arrasada, os perseguidores viram a possibilidade de tomarem eles próprios o poder – tudo deu errado. A matilha se rebelou, os ossos se dilaceraram na mesa de jantar e ninguém mais confia em ninguém. Destruiu-se tudo e o grande alvo ainda não foi abatido. Os Estados Unidos destruíram um país inteiro para matar Osama Bin Laden, mas era um país distante e misterioso aos padrões de Miami/Texas. Fariam o mesmo se ele permanecesse em solo americano?
O Brasil foi destruído. Não temos mais legalidade e os tribunais se converteram em templos do senso comum, o discurso jurídico desapareceu. Hoje, é possível a um leigo substituir um juiz criminal porque o juiz criminal nada tem a diferenciar sua análise daquela formulada por um motorista de táxi, por exemplo.
Há um troféu imaginário em disputa, que seduz muitos deles, de ser considerado o mais rigoroso, o mais injusto, o mais bestial, os juízes humanitários perdem espaço a cada dia. Tornou-se proibido ter compaixão.
Nessa destruição da legalidade, um inquérito policial é instaurado contra o presidente da república, ainda que seja esse que temos, sem antes sequer lhe dar a chance de falar. O dólar vai às alturas, a Bolsa de Valores fecha porque o presidente vai ser investigado sobre fatos que ele desconhece em sua extensão, de diálogos gravados, por quem admitiu encenar um pequeno teatro, previamente estabelecido.
O Presidente da República, no Brasil, é tão sem direitos quanto nós; está à mercê, como nós, de uma vontade tutelar, superior, que pode prender, deixar de soltar, para soltar apenas, não mais como gesto libertário, mas, como manifestação de poder. O Presidente da República está exposto, visceralmente exposto e isso não pode ser bom. Ele que esteja sob as leis, por suposto, mas exposto, assim, não, não se regozijem. Aos que festejaram, que fique a ressaca moral por termos nos divertido com nossa própria catástrofe.
Tudo destruído, o refazimento somente será possível com novas eleições, não apenas presidenciais, mas gerais, para reorganizarmos o país, para conseguirmos estabelecer uma linha de partida. Sem acordões, que desrespeitam bases e pensamentos. Os acordões nos custaram tudo isso que estamos vivendo.
O retorno à legitimidade será doloroso e nos exigirá que as identidades se preservem, que sejamos, pela primeira vez em nossa História, sinceros intelectual e moralmente.
Que o voto seja facultativo; isso seria um recomeçar. Um recomeçar, de onde jamais estivemos.
Roberto Tardelli é Advogado Sócio da Banca Tardelli, Giacon e Conway.
Fonte: Justificando
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