segunda-feira, 22 de maio de 2017

JBS lucrou com delação de Joesley? Entenda o que aconteceu no mercado


JBS lucrou com delação de Joesley? Entenda o que aconteceu no mercado

por Redação — publicado 22/05/2017 16h33
Com venda de ações e compra de dólares, a empresa teria lucrado cerca de 700 milhões de reais com o caos político
Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press/AFP
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MPF e CVM investigam operações suspeitas da JBS no mercado financeiro
Enquanto o mercado de ações derretia e o dólar batia recorde de alta nos últimos dias da semana passada – atingidos em cheio pelo mais novo escândalo da política brasileira – ganhavam força os rumores de que pelo menos um personagem desta novela não tinha exatamente do reclamar.
Antes das gravações feitas por Joesley Batista chegarem ao público, na noite da quarta-feira 17, sua empresa, a JBS, teria comprado entre 750 milhões de dólares e 1 bilhão de dólares no mercado futuro da moeda norte-americana após o fechamento do mercado à vista da quarta.
Além disso, os controladores da companhia venderam o equivalente a 327,4 milhões de reais em ações da empresa durante o mês de abril, segundo o formulário mensal enviado pela companhia à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda que regula e fiscaliza o mercado de capitais.
Os depoimentos de Joesley e de seu irmão Wesley Batista no âmbito da delação premiada ocorreram entre abril e maio. As vendas de ações em abril teriam sido as primeiras movimentações dos controladores no período de um ano segundo o jornal Valor Econômico.
Reação
Na quinta-feira 18, tanto o dólar quanto as taxas de juros negociados no mercado futuro abriram o dia batendo no limite de alta e travaram as negociações. O mesmo aconteceu com a bolsa de valores, mas por causa da desvalorização.
A queda do Ibovespa foi tão forte logo na abertura do mercado que houve circuit breaker, o mecanismo que interrompe a negociação das ações por 30 minutos para amortecer movimentos bruscos e conter a volatilidade extrema. O mecanismo não era acionado desde 2008, auge da crise financeira internacional.
O dólar comercial fechou com alta de 8,15% em relação ao real, encostando na marca de 3,40 reais – a maior valorização diária desde o início de 1999. Nos dias anteriores, o dólar foi negociado na casa dos 3,10 reais. Já o Ibovespa tomou um tombo de 8,8%, o maior dos últimos nove anos. Na segunda-feira 22 as ações da JBS continuavam despencando mais de 20%.
Compra de dólares
À primeira vista, a compra de dólares nos volume da feita pela JBS não é incomum. Várias companhias, principalmente as exportadoras – como é o caso da gigante das carnes – compram e vendem dólares em grandes montantes todos os dias.
O que chama a atenção do mercado e também das autoridades é o momento dessa compra. De acordo com o noticiado pelos veículos que acompanham o mercado financeiro de perto, logo ficou claro que alguém tinha como escapar do terremoto criado pela JBS e logo descobriu-se que era a própria.
Especula-se que a intenção era usar os recursos para pagar as dívidas com a Justiça: a multa de 225 milhões de reais, por conta do acordo de colaboração premiada feito com o Ministério Público, e uma parte do acordo de leniência, ainda não fechado, e que pode ultrapassar 11 bilhões de dólares.
Em nota, a JBS afirmou que as operações de câmbio realizadas na fatídica semana em que vieram a tona suas delações têm como objetivo, exclusivamente, minimizar os riscos cambiais das operações da empresa, que incluem dívidas que precisam ser pagas em dólar. 
A JBS informou também que gerencia de maneira minuciosa e diária sua exposição cambial e de commodities. A empresa acrescenta que as movimentações no mercado de câmbio feitas nos últimos dias estão "alinhadas à sua política de gestão de riscos e proteção financeira".
Investigações
A CVM  já investiga o assunto. O órgão estima, segundo o Valor Econômico, que o lucro do JBS com as operações nos mercados de câmbio e bolsa nas últimas semanas pode ter alcançado 700 milhões de reais. A CVM está trabalhando em conjunto com o Ministério Público Federal no caso de suspeita de uso de informação privilegiada envolvendo o grupo.
A autarquia não tem poder de polícia para acelerar investigações desse tipo, que exigem quebra de sigilo e bloqueio de transações a fim de obter informações financeiras e de comunicação telefônica, entre outros.
A CVM informou, por meio de nota, que suas áreas técnicas irão apurar as acusações de que o grupo J&F, holding que controla a JBS, teria operado no mercado financeiro para lucrar com os efeitos da delação premiada firmada por seus executivos. 
O mercado financeiro prevê sigilo dos investidores, portanto não seria possível identificar se foi a JBS quem realizou a operação. Caso as investigações confirmem a prática da empresa, isso configuraria uso indevido de informações privilegiadas, o que é proibido pela CVM.

Mas mesmo que não fossem investigados pela compra de dólar futuro por parte da JBS às vésperas da divulgação da delação e pela venda de ações da JBS no mês de abril, quando já negociavam com a Procuradoria-Geral da República (PGR) sem que o restante dos agentes de mercado tivessem essa informação, os irmãos Joesley e Wesley Batista já estariam sujeitos a processos da CVM por terem admitido pagamento de propina.
Diretores e conselheiros envolvidos em casos de corrupção paga com dinheiro da companhia aberta afrontam o dever de lealdade que devem ter com as empresas. A pena, em caso de condenação por quebra de dever de lealdade, pode ser pagamento de multa – o maior valor entre 500 mil reais, metade do valor da operação irregular ou o triplo da vantagem obtida – ou de restrição de direitos, como a inabilitação por até 20 anos para determinados cargos e a proibição para atuar no mercado de capitais.
Fonte: Carta Capital

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