Bernardo Mello Franco
Raquel Dodge ainda não
assumiu a Procuradoria-Geral da República, mas já cometeu o primeiro deslize. É
o mínimo que se pode dizer de seu encontro às escondidas com Michel Temer, investigado
e denunciado pela Lava-Jato.
A subprocuradora chegou ao
Palácio do Jaburu depois das 22h de terça-feira. A reunião foi omitida da
agenda oficial do presidente. Veio a público na manhã seguinte, no blog da
repórter Andréia Sadi no portal G1.
Além de fora da agenda, a
conversa aconteceu fora de hora. No mesmo dia, Temer pediu que o procurador
Rodrigo Janot seja afastado das investigações que o envolvem. Ao visitá-lo,
Dodge desautorizou o chefe e passou a ideia de que concorda com a ofensiva do
presidente contra a instituição que passará a comandar.
Procurada para explicar o
encontro, a subprocuradora contou uma história da carochinha. Ela disse à Folha
que Temer queria combinar detalhes de sua posse, em setembro.
Não faz sentido que o
presidente e a futura chefe do Ministério Público Federal se encontrem tarde da
noite para discutir esse tipo de assunto. A não ser que os dois estejam de olho
no emprego dos cerimonialistas, que são pagos para enviar os convites,
contratar o bufê e encomendar os arranjos florais da cerimônia.
Segunda colocada na lista
tríplice da Procuradoria, Dodge foi escolhida após receber apoio do ministro
Gilmar Mendes, que é desafeto de Janot e já salvou o mandato de Temer no TSE.
Sua candidatura também entusiasmou caciques do PMDB, como José Sarney e Renan
Calheiros.
A subprocuradora tem
currículo para comandar o Ministério Público, mas ainda terá que demonstrar
independência de quem a nomeou.
De um procurador-geral,
espera-se uma atitude de distanciamento em relação aos políticos. O ocupante do
cargo não pode perseguir ninguém, mas não deve manter intimidade com
investigados em potencial. Neste caso, não basta a prática. Também é preciso
cuidar das aparências.
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