quarta-feira, 16 de agosto de 2017

“O antipetismo é pouco politizado”, diz o professor Pablo Ortellado, da USP, ao DCM

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“O antipetismo é pouco politizado”, diz o professor Pablo Ortellado, da USP, ao DCM. Por Zambarda
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 8 de agosto de 2017
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Pablo Ortellado
O professor Pablo Ortellado fez mestrado e doutorado em Filosofia pela FFLCH-USP. Ele tem 43 anos, ministra o curso de Gestão de Políticas Públicas na EACH-USP desde 2005 e é colunista no jornal Folha de S.Paulo.
Graças ao seu trabalho surgiu o “Monitor do Debate Político no Meio Digital” no Facebook em 2016.
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A ferramenta, que calcula o alcance dos compartilhamentos de centenas de páginas de jornalismo e de movimentos sociais, ganhou as manchetes da imprensa no começo deste ano. Ao contrário do que parece, o levantamento não é um ranking de credibilidade dos sites, mas sim uma pesquisa sobre como os grupos políticos interagem na internet, sobretudo na maior rede social da atualidade, o Facebook.
Ortellado recentemente deu uma entrevista ao jornalista Mario Sergio Conti na GloboNews, mencionando o DCM como uma das referências da esquerda. O Diário entrevistou o pesquisador por telefone para saber mais detalhes sobre a ferramenta de mensuração de postagens na rede.
DCM: Como começou o projeto do Monitor do Debate Político no Meio Digital?
Pablo Ortellado: A gente começou investigando, tanto lá na USP quanto com apoio da UNIFESP, como surgiram as mobilizações anticorrupção. Começamos a estudar logo depois de 2014, depois da eleição da Dilma. Fizemos observações nas manifestações do final daquele ano. Colocamos questionários para quem foi naquelas mobilizações.
Perguntamos sobre as opiniões daquele grupo e a gente começou a combinar as análises de campo com o que era dito no Facebook, que é a maior interação social digital no Brasil. O Monitor surgiu como ferramenta para entender essa dinâmica no maior debate político brasileiro.
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Ele basicamente monitora os veículos de comunicação, sendo que alguns são predominantemente noticiosos enquanto outros favorecem as opiniões. E há quem favoreça as duas coisas.
DCM: Quantos veículos são monitorados?
PO: Monitoramos algo na ordem de 120 veículos e tudo o que eles publicam. A ferramenta extrai todos os posts automaticamente. A gente mede o desempenho pelo número de compartilhamentos a cada quatro horas. A gente também monitora o que as maiores páginas políticas postam.
Complementamos tudo o que esses 120 sites publicam mais o que essas outras páginas compartilham, o que é um pedaço bem importante do debate. Não monitoramos os outros porque às vezes são blogs muito pequenos, mas eles dão três mil produtores de conteúdo. Por dia, as 120 páginas produzem cerca de sete mil posts.
Todo o conteúdo se refere apenas à política nacional. Não pesquisamos política local, esportes, saúde e outros assuntos que também são interessantes para o Brasil todo.
DCM: Vocês medem fake news ou notícias tendenciosas de páginas como Jornalivre, que atua como braço do MBL espalhando mentiras?
PO: Não, porque a gente não avalia a qualidade do conteúdo no Monitor. O que a gente fez, em alguns casos, parceria com alguns veículos, como o NexoJornal, para gerar um ranking e eles próprios verificarem. Nas vésperas do impeachment da Dilma geramos um ranking que eles checaram que três de cinco posts eram factualmente falsos, ou seja, já tinham sido desmentidos.
Considerando o nosso trabalho, o que a gente entende é que a polarização brasileira estimula a produção de notícias que atenda a um público muito beligerante, muito engajado. Isso vale pros veículos alternativos e vale pra grande imprensa também. Por isso a disciplina da checagem se reduz, impactando a comunicação em si.
Há sites piores do que outros, na minha opinião, em que o cuidado com a informação é praticamente inexistente. E há outros que são cuidadosos, mas pisam na bola, o que não faz parte, necessariamente, do fenômeno das fake news.
DCM: Há uma discussão nos EUA sobre a publicação de fake news pela mídia tradicional. No Brasil, temos uma campanha sistemática da imprensa brasileira, contra Lula, PT e a esquerda. Qual a responsabilidade da mídia brasileira nisso? Um exemplo: o Estadão publicou esse artigo sobre a “Cubazuela” em 2014 e, três anos depois, virou verdade em sites extremistas de direita.
PO: Acho que a polarização política pressiona todo o ecossistema de comunicação a atender os anseios beligerantes de um público dividido e intolerante. Matérias que atendem esse anseio simplesmente tem melhor desempenho porque são mais lidas e mais compartilhadas.
Isso pressiona o sistema a rebaixar o padrão de apuração para produzir matérias que apenas confirmam as narrativas dos polos tanto na grande imprensa como na alternativa.
Há uma porção de casos graves na grande imprensa, principalmente nas revistas semanais que tem sido pouco criteriosas na publicação, assim como há muitos casos relevantes na imprensa alternativa, de esquerda e de direita. Na verdade, eu não acho que fake news seja um conceito a ser aplicado a matérias, mas a um processo que atinge todo o sistema, com alguns veículos resistindo melhor do que outros a essa pressão.
No entanto, o conceito tem sido usado com fins de guerra de informação. Neste sentido, fake news tem sido utilizado para designar tudo o que o adversário publica. Políticos de direita e esquerda tem usado o termo para deslegitimar matérias incômodas. Alguns fazem isso com razão, outros sem razão.
DCM: Você acha que os veículos mais novos dependem mais de Facebook, certo?
PO: A gente já conversou com algumas redações de grande mídia e a gente não sabe, embora os dados não sejam públicos de qualquer forma, qual porção vem do Facebook, quem vem direto dos mecanismos de busca do Google ou mesmo os acessos diretos aos veículos. Falamos pouco com a imprensa alternativa, tanto da esquerda quanto dos antipetistas.
Então eu realmente não sei te dizer como eles estão recebendo o tráfego. Eu suponho, pelas poucas vezes que conversei com os alternativos, que eles dependem muito mais do Facebook.
Quando olhamos as pesquisas, além da TV aberta, o segundo lugar que o brasileiro mais busca informação é o Facebook.
DCM: Mais até do que antigamente era o Twitter, certo?
PO: Sim. O Twitter hoje é bem menor do que o Facebook. O público lá é menor e mais qualificado, é diferente. O Facebook tem uma base maior, de mais 100 milhões de usuários no Brasil. É praticamente metade da sociedade, medido em cerca de 60%.
DCM: Você caracteriza os sites de direita como antipetistas. Não há nenhum que foge dessa lógica de polarização?
PO: No Monitor, a gente chama de antipetista o que, no nosso entendimento, está na esfera de discussão. A esquerda está mais estruturada e o que está em oposição a este campo não é o que se define exatamente como direita. A maior parte das organizações que lideram o campo antipetista são de direita.
O público que frequenta esses espaços anti-PT não se identifica como direita. Quando levantamos as opiniões dessas pessoas, nem todo o indivíduo é de direita.
DCM: Ele pode ser a favor de políticas sociais de esquerda e estar no campo antipetista?
PO: Se fosse pra chutar um rótulo para essas pessoas que são antiesquerda, eu diria que elas são pouco politizadas. Eles estão interessados no tema da corrupção, mas não estão formados para discutir melhor o assunto.

Resumindo, a esquerda está constituída, enquanto o antipetismo é pouco politizado mesmo.

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