quarta-feira, 16 de agosto de 2017

O mundo azul da traição

O mundo azul da traição
POR FERNANDO BRITO · 11/08/2017
azul
Tal como fizera, há um mês, na exibição de Deltan Dallagnol aos high-society da cirurgia plástica, a repórter Anna Virgínia Ballousier, hoje, na Folha, nos leva a passear no “mundo azul” do tucanato “social”.
“”Tenho certeza que a São Paulo do mundo azul já tem alguém” em mente para liderar o país, disse [Ivo] Wohnrath”, dono do escritório de “arquitetura de interiores” que patrocinava a noitada em São Paulo.
“Doria entrou no palco ao som do “Tema da Vitória”, trilha de sua campanha a prefeito”.
Ali, conta-nos Anna,  “ovacionado no “mundo azul” de empresários que bebericavam taças de Veuve Clicquot na Casa Fasano, Doria relembrou a ovada que levou de opositores em Salvador e atacou militantes de “esquerda e extrema-esquerda” que ocuparam a Câmara Municipal de São Paulo para protestar contra seu programa de privatizações”.
Então, o gauleiter paulistano fartou-se com os aperitivos de um “debate”  entre Carlos Alberto Sardenberg e Arnaldo Jabor, regado a ódio a Lula, antes de saciar-se com “escalope de filé mignon ao molho de cogumelos e risoto de ervas (com zuppa gelada de frutas amarelas com sorvete de iogurte para arrematar)”.
Barriguinha cheia, contou que está sendo cortejado  – e convidado – pelo DEM e pelo PMDB para ser candidato a presidente, mas disse que “ainda não é hora” de falar disso e disse – o que talvez fosse adequado ao grau de hipocrisia do salão – que sua amizade com Geraldo Alckmin é “indivisível”.
Fernando Henrique fazia-lhe o papel de “dama de companhia”, fazendo um discurso de “esquerda chique”, elogiando o Lula do passado e descendo a lenha no do presente e do futuro: “O “Lula lá de trás”, disse, era “inovador” e reconhecia que “a CLT amarrava o trabalhador”; já o Lula de agora “está radicalizando” e “vai para o gueto”.
Dória e Fernando Henrique se adequavam, ali, perfeitamente, ao que o escritório dos anfitriões define como “retrofit”: pegar estruturas antigas e ultrapassadas e emprestar-lhe um novo estilo e visual – “colocar o antigo em boa forma”, dizem em seu site.
Ali, cercado de “gente bem”, espalhada no “salão com 58 mesas iluminadas por velas” – e não destes fedorentos deselegantes das ruas comuns”, ouviam em deleite Arnaldo Jabor se dizer receoso com “a desgraçada possibilidade de Lula voltar”.
O que fez, talvez com um travo amargo de quem sabe que virou o contrário do que era, fez brotar a blague de FHC:
-Se depender desse público, ele não volta.

Os brioches, rápido.

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