É o fim do
Império?
Leonardo Attuch
O que fará Donald Trump na Casa Branca?
Antes de responder a essa questão, há outra que a precede. Como, afinal, ele se
impôs, atropelando a candidata do establishment político e financeiro, Hillary
Clinton, e o próprio Partido Republicano?
A razão é uma só: o mal-estar crescente,
na sociedade americana, com a globalização, que exportou empregos industriais
em menor escala para o México e, em maior volume, para a China – um
descontentamento semelhante ao que provocou a vitória do “brexit” na
Grã-Bretanha.
Trump, portanto, espelha a decadência
imperial.
É a falta de perspectivas do trabalhador
de classe média que inspirou o slogan “Make America Great Again”.
Essa nostalgia da grandeza, ou do sonho
americano, não poderia ser melhor interpretada do que por um bilionário, que se
vende como autêntico "self-made man”, capaz de transformar os próprios
fracassos em grandes recomeços. E que também, como comunicador profissional,
soube explorar os preconceitos e os piores instintos de uma sociedade amedrontada.
Trump, portanto, poderia ser qualificado
como um populista de direita. No entanto, boa parte da esquerda norte-americana
torceu por sua vitória – ainda que, em muitos casos, sem assumir essa posição.
O motivo é simples. Trump, aos olhos
dessa esquerda, representa um risco menor para o mundo do que Hillary Clinton,
que, como secretária de Estado, deixou suas digitais em ações desastrosas, como
as intervenções no Iraque, no Afeganistão, na chamada “primavera árabe” e até
mesmo em mudanças de regime na América Latina, como já ficou provado em
Honduras.
O presidente eleito nos Estados Unidos,
no entanto, construiu uma reputação de “isolacionista”, quando, na verdade, seu
discurso era bem mais pacifista do que o de Hillary.
Sobre a crise síria, que já matou
centenas de milhares de pessoas e exporta hordas de refugiados para a Europa,
Trump afirmou que o papel dos Estados Unidos não deve ser o de armar rebeldes,
nem combater o governo local ou confrontar a Rússia. O inimigo, disse ele, é o
Exército Islâmico, que, com a política externa de Barack Obama e Hillary
Clinton, vinha se fortalecendo.
Sobre seus supostos laços com a Rússia,
ao ser questionado por Hillary na campanha, Trump deu uma reposta prática e
direta. “Por que não podemos nos dar bem com eles? Temos que ser inimigos e
apontar armas?”
Em relação à bomba nuclear
norte-coreana, ele afirmou que o problema diz respeito ao Japão, à China e à
Coreia do Sul, e não aos Estados Unidos.
Na prática, com esse tipo de discurso,
os Estados Unidos desembarcam de sua posição imperial – que já não conseguiam
sustentar economicamente – e chamam os demais países à responsabilidade de
zelar pela paz mundial.
Com isso, chega ao fim a era da
hegemonia da “hiperpotência americana" e abre-se uma nova etapa, de um
mundo realmente multipolar. Ou seja: um cenário muito mais justo e propício à
paz mundial, onde os BRICs podem vir a jogar um papel decisivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário