16/11/2016 11:19 - Copyleft
Paulo Kliass *Temer, PIB e estelionato golpeachmental
Quem apostou no golpe sonhando com harmonia social e crescimento econômico deve estar profundamente arrependido da ilusão em que caiu.
O financismo consegue realizar façanhas capazes de deixar qualquer outro setor de nossa economia com profundo sentimento de impotência. Para além de sua impressionante capacidade de influenciar os tomadores de decisões no âmbito da política econômica para favorecer seus próprios interesses, a elite da finança tem o inegável dom de moldar a cabeça dos dirigentes políticos em nosso País.
Ao longo do presente ano, toda a agenda da política nacional esteve dominada pela sanha golpista. Os tempos e as análises dos principais órgãos da grande imprensa alternavam-se entre as denúncias seletivas da Operação Lava Jato e as interpretações forçadas a respeito das chamadas pedaladas fiscais. O objetivo explícito e não disfarçado era promover o afastamento da Presidenta Dilma, abrindo espaço para que o programa que havia sido derrotado nas eleições de outubro de 2014 pudesse, finalmente, se transformar em política de governo.
Para tanto, contribui sobremaneira o processo crescente de perda de popularidade do governo eleito, em razão do bombardeio denuncista cotidiano e da piora significativa nas condições de vida da grande maioria de nosso povo. Ao se render às pressões do establishment ainda no final de seu primeiro mandato, Dilma acabou por abraçar a estratégia do austericídio como se fora sua própria forma de governar e enfrentar a crise, que já começava então a apresentar seus primeiros sinais.
O golpe e as falsas promessas.
Isso significava trazer para dentro do Palácio do Planalto as propostas de impor severos ajustes na política fiscal, ao mesmo tempo em que se recusava a por em marcha a tão necessária flexibilização da política monetária. A economia brasileira já começava a reduzir de forma significativa seu ritmo de crescimento. E para piorar tudo, Dilma rompe com a última esperança proporcionada pelo amplo leque de forças políticas se formou em torno de sua reeleição, quando a candidata de “coração valente” prometia mudanças na direção da recuperação da via do desenvolvimento com redução de desigualdades e com a inclusão social.
A gota d’água da traição foi o convite encaminhado a um representante digno do financismo para comandar a economia. Diante da recusa do Presidente do Bradesco (Trabucco), Dilma aceitou o nome de seu segundinho - o diretor daquele banco privado, Joaquim Levy. O governo cedia em tudo e não conseguia, nem exigia, nada em troca. A partir de então, os mais exaltados do golpismo perceberam que não haveria tanto obstáculo assim ao seu intento maior. As votações do impedimento na Câmara dos Deputados e no Senado Federal revelaram a incrível facilidade com que se podia afastar um governo legitimamente eleito, mas que perdera toda a capacidade de rearticular sua base social popular de apoio..
A cereja do bolo foi o convencimento generalizado de que todos os males que o País padecia deveriam atribuídos à suposta incompetência da equipe econômica de Dilma. Não haveria razões para muita preocupação, pois a solução seria simples. Isso é o que asseguravam os analistas e colunistas que mais tramavam abertamente pelo golpe. Bastaria substituir Dilma por Temer que tudo se resolveria às mil maravilhas. A chegada de Henrique Meirelles ao Ministério da Fazenda com as devidas honras de salvador da Pátria mal escondia a realidade dos fatos Afinal, o ex presidente internacional do Bank of Bosnton havia sido o preferido de Lula para o posto desde 2015, além de ter ocupado o todo poderoso comando da política monetária durante os 2 mandatos do ex presidente à frente do Banco Central.
A queda de Dilma e o ingresso no paraíso.
“Primeiro a gente tira a Dilma, depois tudo se acerta” era o mantra que percorria os encontros de nossa elite. E assim foi seguido à risca o roteiro do golpe midiático-jurídico. Temer recupera as orientações gerais do programa “Ponte para o futuro” do PMDB e incorpora a nata do financismo para dentro de sua equipe. Meirelles no Ministério da Fazenda e Ilan Goldfajn no Banco Central representavam tudo o que desejavam os representantes da banca privada. Era a ante sala da redenção brasileira.
A promessa do golpeachment, no entanto, aos poucos começa a se transformar em uma “estória mal contada”. A implementação ainda mais radical da receita do austericídio só fazia aumentar os efeitos negativos da recessão e do desemprego. A manutenção da SELIC nas alturas e a obsessão por cortes radicais nas despesas sociais do orçamento só aprofundaram a gravidade do quadro. E a ingênua ideia de que a economia voltaria a crescer apenas por obra e graça dos belos olhos da duplinha dinâmica no comando da economia vai se derretendo com o passar dos meses.
A verdade é que os apoiadores da mudança sentem-se agora como vítimas de um verdadeiro estelionato golpeachmental. Num paradoxal contexto do avesso do avesso da ruptura programática praticada Dilma depois de sua reeleição, agora parcela dos setores que se aventuraram no impedimento flagrantemente inconstitucional se dizem enganados. Afinal, a eles havia sido prometido que bastaria substituir o ocupante do Palácio da Alvorada e os dirigentes da política econômica. E que isso promoveria uma profunda reversão das expectativas dos agentes econômicos e blá blá blá. Em síntese, o discurso que se consolidava de forma hegemônica por todos os cantos era de que os investimentos paralisados seriam rapidamente retomados e que o PIB voltaria rapidamente a crescer. Simples no último!
Retomada do crescimento exige o oposto do austericídio.
O problema é que o fenômeno econômico costuma se apresentar como um pouquinho mais complexo do que supõem os modelitos dos economistas que pensam com a cabeça de planilha. Os empresários não retomam seus investimentos apenas em função de um passe de mágica de promessas de mudanças. As tais das expectativas, tão amplamente alardeadas ao longo dos últimos meses, não dizem respeito apenas à entrada em cena de novos ocupantes de cargos no governo federal. O elemento fundamental para a libertação do chamado “espírito animal” dos capitalistas diz respeito às expectativas de retornos econômico-financeiros futuros associados à decisão de investimento no momento presente.
E no nosso caso atual há dois fatores essenciais que interferem negativamente para a retomada dos investimentos na economia produtiva real. De um lado, atua o elevadíssimo patamar da capacidade ociosa da economia brasileira – para aumentar a produção não é necessário nem investir mais. De outro lado, vemos os estratosféricos ganhos financeiros assegurados ao capital parasita na esfera da especulação financeira. Assim, ambos somam-se à recessão e ao desemprego, que reforçam negativamente as expectativas de consumo futuro. Afinal, com a economia paralisada, a renda média geral também cai e o elevado grau de endividamento dos governos, das empresas e das famílias não estimula em nada estimativas de acréscimos no ritmo de consumo já tão reduzido.
Os meios de comunicação bem que se esmeram na tarefa de blindar o novo governo em seus sucessivos escândalos e vem buscando amplificar de forma insistente o clima do “já ganhou” e do “agora vai”. Porém, todo esse esforço tem se revelado em vão. Os meses vão se passando desde a primeira votação do impeachment na Câmara dos Deputados em 17 de abril. E o próprio Temer acaba se mostrando inquieto com a ausência de boas novidades no horizonte econômico. Afinal, essa foi a promessa que lhe fizeram ao pé do ouvido. Algo na linha do “cuide da política, que nós nos ocupamos aqui da economia”. E viva a competência da equipe Fazenda/Banco Central!
“Expectativas frustradas”.
Ocorre que a realidade é chata, insistente e não deixa de ser retratada nas estatísticas oficiais. Agora parece que os grandes jornais e as redes de comunicação finalmente despertaram e não conseguem mais esconder os números apurados pelo próprio governo. Até o jornal Valor Econômico estampa em matéria de capa no feriado de 15 de novembro:
“As expectativas de recuperação da atividade econômica a partir deste fim de ano estão sendofrustradas. Depois dos maus resultados da indústria e do comércio no terceiro trimestre, alguns indicadores econômicos de outubro reforçaram a avaliação de que a economia vai encolher também nos últimos três meses do ano.” (GN)
Temer pode até argumentar - ele também - que se sentiu ludibriado pelos espertalhões da seara financeira. Afinal, o único setor da economia que continua a apresentar lucros bilionários em seus balanços são os bancos. Insistir na armadilha de obtenção de superávit primário e arrochar as despesas orçamentárias excetuadas os gastos com pagamento de juros tem-se revelado como um verdadeiro tiro no pé. Todo mundo se encontra em falência ou em extrema dificuldade, enquanto as instituições financeiras vão surfando nos resultados que deveriam causar sentimento de vergonha nacional.
Os empresários se iludiram com as supostas maravilhas que seriam obtidas a partir da campanha do golpe. Assim, demonstravam expectativas positivas com o cenário futuro, quando indagados nas pesquisas. No entanto, quando perguntados se tinham intenções de aumentar os investimentos em seus próprios empreendimentos, a resposta era sistematicamente negativa. Ora, parece óbvio que essa conta não iria fechar nunca. Quais seriam essas tais “expectativas positivas” gerais que não se transformavam em aumento da capacidade instalada e não promoviam acréscimos em seus próprios investimentos?
A aposta na aprovação da PEC 55 e a continuidade desse desmonte assassino de nossa estrutura de direitos sociais básicos por longos 20 anos só deverá aprofundar esse caos. A tendência é de se virem aumentadas ainda mais as necessidades de apoio de políticas públicas como previdência, assistência, saúde, educação e demais. Mas o engessamento da Constituição com o tal “Novo Regime Fiscal” introduz no próprio texto a orientação da prioridade para o dispêndio orçamentário com elementos do financeiro e a redução relativa dos demais gastos sociais e com investimentos. O cenário aponta para a inescapável radicalização da luta social.
Quem apostou no golpe sonhando com harmonia social e crescimento econômico deve estar profundamente arrependido da ilusão em que caiu. A ruptura institucional e a insistência cega no austericídio só tem provocado elevação da temperatura nos conflitos por todos os cantos na Nação. A opção de Temer por introduzir na agenda política o tema da reforma previdenciária redutora de direitos só deverá colocar ainda mais lenha na fogueira. O perigoso endurecimento do regime em direção a uma forma particular de autoritarismo institucionalizado é fonte de preocupação até em esferas internacionais de direito.
Estelionato golpeachmental: a culpa é do Trump!
O recurso ao contorcionismo retórico é amplo e universal. Temer pode até ser convencido de que a “herança maldita” era maior do que sua equipe imaginava e que os efeitos inimagináveis da vitória de Trump nas eleições norte-americanas contribuíram para o fraco desempenho de nossa economia. A blindagem midiática continuará e outros eventos de jornalismo vergonhoso como a recente entrevista bajuladora da TV Cultura no programa Roda Viva poderão ser anunciados.
Mas o fato concreto é que houve um estelionato golpeachmental. Prometeram e não cumpriram. Lançaram mão de propaganda enganosa e não entregaram o prometido. A economia continua rateando e estamos mesmo na maior recessão de nossa história. Aliás, já tem banco grande aí fazendo as contas meio às escondidas e concluindo que talvez o crescimento do PIB não ocorra nem mesmo em 2017. A julgar pelas informações existentes, o fundo do poço ainda não foi encontrado.
* Paulo Kliass é doutor em Economia pela Universidade de Paris 10 e Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal.
Ao longo do presente ano, toda a agenda da política nacional esteve dominada pela sanha golpista. Os tempos e as análises dos principais órgãos da grande imprensa alternavam-se entre as denúncias seletivas da Operação Lava Jato e as interpretações forçadas a respeito das chamadas pedaladas fiscais. O objetivo explícito e não disfarçado era promover o afastamento da Presidenta Dilma, abrindo espaço para que o programa que havia sido derrotado nas eleições de outubro de 2014 pudesse, finalmente, se transformar em política de governo.
Para tanto, contribui sobremaneira o processo crescente de perda de popularidade do governo eleito, em razão do bombardeio denuncista cotidiano e da piora significativa nas condições de vida da grande maioria de nosso povo. Ao se render às pressões do establishment ainda no final de seu primeiro mandato, Dilma acabou por abraçar a estratégia do austericídio como se fora sua própria forma de governar e enfrentar a crise, que já começava então a apresentar seus primeiros sinais.
O golpe e as falsas promessas.
Isso significava trazer para dentro do Palácio do Planalto as propostas de impor severos ajustes na política fiscal, ao mesmo tempo em que se recusava a por em marcha a tão necessária flexibilização da política monetária. A economia brasileira já começava a reduzir de forma significativa seu ritmo de crescimento. E para piorar tudo, Dilma rompe com a última esperança proporcionada pelo amplo leque de forças políticas se formou em torno de sua reeleição, quando a candidata de “coração valente” prometia mudanças na direção da recuperação da via do desenvolvimento com redução de desigualdades e com a inclusão social.
A gota d’água da traição foi o convite encaminhado a um representante digno do financismo para comandar a economia. Diante da recusa do Presidente do Bradesco (Trabucco), Dilma aceitou o nome de seu segundinho - o diretor daquele banco privado, Joaquim Levy. O governo cedia em tudo e não conseguia, nem exigia, nada em troca. A partir de então, os mais exaltados do golpismo perceberam que não haveria tanto obstáculo assim ao seu intento maior. As votações do impedimento na Câmara dos Deputados e no Senado Federal revelaram a incrível facilidade com que se podia afastar um governo legitimamente eleito, mas que perdera toda a capacidade de rearticular sua base social popular de apoio..
A cereja do bolo foi o convencimento generalizado de que todos os males que o País padecia deveriam atribuídos à suposta incompetência da equipe econômica de Dilma. Não haveria razões para muita preocupação, pois a solução seria simples. Isso é o que asseguravam os analistas e colunistas que mais tramavam abertamente pelo golpe. Bastaria substituir Dilma por Temer que tudo se resolveria às mil maravilhas. A chegada de Henrique Meirelles ao Ministério da Fazenda com as devidas honras de salvador da Pátria mal escondia a realidade dos fatos Afinal, o ex presidente internacional do Bank of Bosnton havia sido o preferido de Lula para o posto desde 2015, além de ter ocupado o todo poderoso comando da política monetária durante os 2 mandatos do ex presidente à frente do Banco Central.
A queda de Dilma e o ingresso no paraíso.
“Primeiro a gente tira a Dilma, depois tudo se acerta” era o mantra que percorria os encontros de nossa elite. E assim foi seguido à risca o roteiro do golpe midiático-jurídico. Temer recupera as orientações gerais do programa “Ponte para o futuro” do PMDB e incorpora a nata do financismo para dentro de sua equipe. Meirelles no Ministério da Fazenda e Ilan Goldfajn no Banco Central representavam tudo o que desejavam os representantes da banca privada. Era a ante sala da redenção brasileira.
A promessa do golpeachment, no entanto, aos poucos começa a se transformar em uma “estória mal contada”. A implementação ainda mais radical da receita do austericídio só fazia aumentar os efeitos negativos da recessão e do desemprego. A manutenção da SELIC nas alturas e a obsessão por cortes radicais nas despesas sociais do orçamento só aprofundaram a gravidade do quadro. E a ingênua ideia de que a economia voltaria a crescer apenas por obra e graça dos belos olhos da duplinha dinâmica no comando da economia vai se derretendo com o passar dos meses.
A verdade é que os apoiadores da mudança sentem-se agora como vítimas de um verdadeiro estelionato golpeachmental. Num paradoxal contexto do avesso do avesso da ruptura programática praticada Dilma depois de sua reeleição, agora parcela dos setores que se aventuraram no impedimento flagrantemente inconstitucional se dizem enganados. Afinal, a eles havia sido prometido que bastaria substituir o ocupante do Palácio da Alvorada e os dirigentes da política econômica. E que isso promoveria uma profunda reversão das expectativas dos agentes econômicos e blá blá blá. Em síntese, o discurso que se consolidava de forma hegemônica por todos os cantos era de que os investimentos paralisados seriam rapidamente retomados e que o PIB voltaria rapidamente a crescer. Simples no último!
Retomada do crescimento exige o oposto do austericídio.
O problema é que o fenômeno econômico costuma se apresentar como um pouquinho mais complexo do que supõem os modelitos dos economistas que pensam com a cabeça de planilha. Os empresários não retomam seus investimentos apenas em função de um passe de mágica de promessas de mudanças. As tais das expectativas, tão amplamente alardeadas ao longo dos últimos meses, não dizem respeito apenas à entrada em cena de novos ocupantes de cargos no governo federal. O elemento fundamental para a libertação do chamado “espírito animal” dos capitalistas diz respeito às expectativas de retornos econômico-financeiros futuros associados à decisão de investimento no momento presente.
E no nosso caso atual há dois fatores essenciais que interferem negativamente para a retomada dos investimentos na economia produtiva real. De um lado, atua o elevadíssimo patamar da capacidade ociosa da economia brasileira – para aumentar a produção não é necessário nem investir mais. De outro lado, vemos os estratosféricos ganhos financeiros assegurados ao capital parasita na esfera da especulação financeira. Assim, ambos somam-se à recessão e ao desemprego, que reforçam negativamente as expectativas de consumo futuro. Afinal, com a economia paralisada, a renda média geral também cai e o elevado grau de endividamento dos governos, das empresas e das famílias não estimula em nada estimativas de acréscimos no ritmo de consumo já tão reduzido.
Os meios de comunicação bem que se esmeram na tarefa de blindar o novo governo em seus sucessivos escândalos e vem buscando amplificar de forma insistente o clima do “já ganhou” e do “agora vai”. Porém, todo esse esforço tem se revelado em vão. Os meses vão se passando desde a primeira votação do impeachment na Câmara dos Deputados em 17 de abril. E o próprio Temer acaba se mostrando inquieto com a ausência de boas novidades no horizonte econômico. Afinal, essa foi a promessa que lhe fizeram ao pé do ouvido. Algo na linha do “cuide da política, que nós nos ocupamos aqui da economia”. E viva a competência da equipe Fazenda/Banco Central!
“Expectativas frustradas”.
Ocorre que a realidade é chata, insistente e não deixa de ser retratada nas estatísticas oficiais. Agora parece que os grandes jornais e as redes de comunicação finalmente despertaram e não conseguem mais esconder os números apurados pelo próprio governo. Até o jornal Valor Econômico estampa em matéria de capa no feriado de 15 de novembro:
“As expectativas de recuperação da atividade econômica a partir deste fim de ano estão sendofrustradas. Depois dos maus resultados da indústria e do comércio no terceiro trimestre, alguns indicadores econômicos de outubro reforçaram a avaliação de que a economia vai encolher também nos últimos três meses do ano.” (GN)
Temer pode até argumentar - ele também - que se sentiu ludibriado pelos espertalhões da seara financeira. Afinal, o único setor da economia que continua a apresentar lucros bilionários em seus balanços são os bancos. Insistir na armadilha de obtenção de superávit primário e arrochar as despesas orçamentárias excetuadas os gastos com pagamento de juros tem-se revelado como um verdadeiro tiro no pé. Todo mundo se encontra em falência ou em extrema dificuldade, enquanto as instituições financeiras vão surfando nos resultados que deveriam causar sentimento de vergonha nacional.
Os empresários se iludiram com as supostas maravilhas que seriam obtidas a partir da campanha do golpe. Assim, demonstravam expectativas positivas com o cenário futuro, quando indagados nas pesquisas. No entanto, quando perguntados se tinham intenções de aumentar os investimentos em seus próprios empreendimentos, a resposta era sistematicamente negativa. Ora, parece óbvio que essa conta não iria fechar nunca. Quais seriam essas tais “expectativas positivas” gerais que não se transformavam em aumento da capacidade instalada e não promoviam acréscimos em seus próprios investimentos?
A aposta na aprovação da PEC 55 e a continuidade desse desmonte assassino de nossa estrutura de direitos sociais básicos por longos 20 anos só deverá aprofundar esse caos. A tendência é de se virem aumentadas ainda mais as necessidades de apoio de políticas públicas como previdência, assistência, saúde, educação e demais. Mas o engessamento da Constituição com o tal “Novo Regime Fiscal” introduz no próprio texto a orientação da prioridade para o dispêndio orçamentário com elementos do financeiro e a redução relativa dos demais gastos sociais e com investimentos. O cenário aponta para a inescapável radicalização da luta social.
Quem apostou no golpe sonhando com harmonia social e crescimento econômico deve estar profundamente arrependido da ilusão em que caiu. A ruptura institucional e a insistência cega no austericídio só tem provocado elevação da temperatura nos conflitos por todos os cantos na Nação. A opção de Temer por introduzir na agenda política o tema da reforma previdenciária redutora de direitos só deverá colocar ainda mais lenha na fogueira. O perigoso endurecimento do regime em direção a uma forma particular de autoritarismo institucionalizado é fonte de preocupação até em esferas internacionais de direito.
Estelionato golpeachmental: a culpa é do Trump!
O recurso ao contorcionismo retórico é amplo e universal. Temer pode até ser convencido de que a “herança maldita” era maior do que sua equipe imaginava e que os efeitos inimagináveis da vitória de Trump nas eleições norte-americanas contribuíram para o fraco desempenho de nossa economia. A blindagem midiática continuará e outros eventos de jornalismo vergonhoso como a recente entrevista bajuladora da TV Cultura no programa Roda Viva poderão ser anunciados.
Mas o fato concreto é que houve um estelionato golpeachmental. Prometeram e não cumpriram. Lançaram mão de propaganda enganosa e não entregaram o prometido. A economia continua rateando e estamos mesmo na maior recessão de nossa história. Aliás, já tem banco grande aí fazendo as contas meio às escondidas e concluindo que talvez o crescimento do PIB não ocorra nem mesmo em 2017. A julgar pelas informações existentes, o fundo do poço ainda não foi encontrado.
* Paulo Kliass é doutor em Economia pela Universidade de Paris 10 e Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal.
Créditos da foto: Beto Barata / PR
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