Temer entrega a
Petrobras: "São 63 anos indo pelo ralo", diz FUP
Após a conclusão, pela Câmara dos
Deputados, da votação do projeto de Lei 4567/16, que aprovou
(9/11) definitivamente as mudanças na Lei de Partilha, o Brasil sofrerá
prejuízos praticamente incalculáveis. Tanto em estimativas numéricas, relativas
a prejuízos financeiros e econômicos, como em avaliações menos objetivas, já
que a recusa do país em destinar recursos do pré-sal a saúde e educação vai
deixar um rastro de destruição impossível de medir.
Eduardo Maretti
Segundo o diretor de Relações
Internacionais e de Movimentos Sociais da Federação Única dos Petroleiros
(FUP), João Antônio de Moraes, o valor que deixará de ir para saúde e educação
pode chegar a R$ 50 bilhões, só considerando a área de Libra, da qual a
Petrobras controla hoje 40% – os outros 60% são da anglo-holandesa Shell (20%),
da francesa Total (20%) e de grupos chineses (20%).
Como o pré-sal é avaliado em mais de dez
vezes a área de Libra, diz o dirigente, o cálculo é o seguinte: "Pode-se
estimar em 600 bilhões, em termos de pré-sal como um todo, podendo chegar a 1
trilhão de reais, só o prejuízo em saúde e educação. Fora todo o resto".
Moraes falou à RBA após a votação do
projeto originário do Senado, de autoria do senador licenciado José Serra
(PSDB-SP), que retira da Petrobras a condição de operadora exclusiva na
exploração da camada do pré-sal. O texto segue agora para sanção presidencial.
Para Moraes, Serra "tem que ser
responsabilizado pelo povo brasileiro como um todo". "Ele foi
flagrado na campanha presidencial (em 2009) quando se comprometeu a entregar o
petróleo do pré-sal, e entregou mesmo", diz. Segundo o site WikiLeaks, o
atual ministro das Relações Exteriores prometeu à petroleira Chevron, em 2009,
que o marco de exploração do petróleo seria alterado, se ele ganhasse as
eleições de 2010.
Mal a lei foi aprovada, o presidente
mundial da Shell, Ben van Beurden, declarou no Brasil que a nova realidade
"torna o mercado ainda mais atraente para a Shell". Segundo ele, a
multinacional quer "operar no Brasil tendo a Petrobras como parceiro
estratégico”. A declaração foi dada hoje (10), "após reunião no Palácio do
Planalto em que se discutiu o investimento de US$ 10 bilhões da empresa no
Brasil", segundo o jornal Valor.
Veja
a entrevista:
·
Quanto dinheiro o
país poderá perder, em benefício das exploradoras internacionais, após a lei
entrar em vigor?
A mudança se dá em toda a área de
pré-sal e, por exemplo, a única área do regime de partilha que foi feito leilão
é Libra. Libra foi estimado em 15 bilhões de barris de petróleo. Essa área, que
corresponde à mudança (da lei), pode ser de 170 a 300 bilhões de barris. O
pré-sal é estimado, portanto, em mais de dez vezes Libra. Nós estimamos que, se
essa mudança já tivesse ocorrido com Libra, significaria 50 bilhões de reais em
saúde e educação. Como não é nenhum exagero estimar o pré-sal em bem mais de
dez vezes Libra, você pode falar em dez vezes isso. Só em função dos custos
operacionais, que as multinacionais já anunciaram que vai ser bem mais caro do
que da Petrobras, significaria 500 bilhões. Isso pode aumentar muito se levar
em consideração outros prejuízos.
·
Por exemplo.
Por exemplo, a falta de aplicação do
conteúdo local. O fato de as empresas estrangeiras não comprarem no país.
Significa que vai deixar de girar em nossa economia.
·
Quem serão os
principais prejudicados com a entrega do pré-sal?
Primeiro prejuízo é da soberania
energética do Brasil. O petróleo é um bem do país. Quando você permite que
empresas estrangeiras passem a controlar essa riqueza você coloca em risco a
sua soberania energética. Isto é, você vai mandar petróleo para fora ao invés
de mandar para dentro do país. O segundo grande prejuízo é o conteúdo nacional.
As empresas estrangeiras compram os insumos nas suas nações de origem, e não
onde atuam. A Petrobras efetua suas compras dentro do Brasil; as estrangeiras,
fora do país, principalmente em seus países de origem. Isso significa um grave
prejuízo à economia nacional, às empresas nacionais, que deixarão de vender
para a indústria do petróleo.
·
Consequentemente,
o prejuízo recai sobre o povo, o trabalhador, a educação...
Vamos lá. Terceiro prejuízo: os
royalties para saúde e educação. As empresas estrangeiras têm um custo de
operação cerca do dobro da Petrobras. Elas produzem no pré-sal a 7 ou 8 dólares
o barril e as estrangeiras já anunciaram que não produzirão por menos do que
15. Esse dinheiro vai sair do que iria para saúde e educação. São 50 bilhões de
reais só da área de Libra. E podemos estimar em 600 bilhões, em termos de
pré-sal como um todo, podendo chegar a 1 trilhão de reais, só em saúde e
educação. Fora todo o resto.. Quarto prejuízo: os trabalhadores, porque as
empresas estrangeiras também operam com piores condições para o trabalhador. E
quando falo em trabalhador, pode incluir a questão ambiental, porque elas
operam em condições de trabalho piores, e assim colocam mais em risco o meio
ambiente.
·
Há como falar em
campos de exploração que seriam os mais desejados pelas petroleiras
multinacionais?
Toda a área do pré-sal desperta muita
cobiça internacional. Porque tradicionalmente, na indústria do petróleo, a cada
quatro poços que se furam, se encontra petróleo em um. No pré-sal, nós já
perfuramos cerca de 60 poços, e desses os poços secos, os que você perfura e
não encontra nada, estão na casa de seis poços. Pode-se dizer que o petróleo do
pré-sal não é a ser buscado, é petróleo encontrado. A margem de risco é muito
pequena.
·
Um negócio de
ganho certo...
Ganho certo, exatamente. Quando o
governo vai lá fora anunciar essas mudanças ele fala: “É um grande negócio, não
se terá mais oportunidade como essa”. É um grande negócio entregar o que é
nosso.
·
Qual o papel das
petroleiras internacionais em todo o processo? Elas estão saqueando o Brasil?
Eu acho que a culpa não é delas, não. A
culpa é do governo e do Congresso que aprovou essas mudanças. As empresas estão
no negócio delas.
Ou seja, os norte-americanos e
estrangeiros cuidam do interesse deles, nós é que não cuidamos dos nossos.
Exatamente. É grave quem deveria
defender o interesse do país atuar para entregar.
·
Algumas pessoas
defendem que o senador José Serra poderá ser responsabilizado por crime de
lesa-pátria no futuro. Qual sua opinião sobre isso?
Ele tem que ser responsabilizado pelo
povo brasileiro como um todo, porque nesse caso é deslavado. Ele foi flagrado
na campanha presidencial (em 2009) quando se comprometeu a entregar o petróleo
do pré-sal, e entregou mesmo.
·
Futuramente, um
governo progressista no país poderia resgatar o pré-sal ou o que for vendido na
atual conjuntura, como Cristina Kirchner fez com a YPF na Argentina?
Acho que sim. Essa batalha da soberania
energética não termina nunca, é permanente. Por exemplo, agora tiraram da
Petrobras a condição de operadora exclusiva. Já tem projetos no Congresso que
buscam voltar ao modelo de concessão. Se lá na frente se conseguir uma
correlação de forças, tem que ser cobrada a responsabilidade de quem fez esses
crimes.
Essa luta tem um aspecto do bem em si,
do recurso natural do petróleo, e tem o aspecto da capacidade tecnológica e
econômica de explorar esse bem. Esse governo está atacando o país nesses dois
fronts. Por um lado, ele entrega o pré-sal com essa mudança na lei, e por outro
promove o desmonte da Petrobras. Isso significa que, se nós permitirmos que
esse desmonte vá até o final, mesmo retomando o recurso natural amanhã, teremos
dificuldade por não termos mais a empresa estruturada para explorar esse
recurso. É o que vive a Argentina hoje. Porque na Argentina a YPF foi
privatizada e, apesar da Cristina Kirchner ter buscado renacionalizar e criar a
empresa novamente, eles não estão tendo capacidade econômica e tecnológica para
recriar a Petrobras deles.
·
Ou seja, é muito
mais grave do que parece.
É muito mais grave do que parece. Porque
você precisa ter o recurso natural , mas também precisa ter o conhecimento, a
tecnologia. O Brasil tem os dois. E o governo Temer está entregando os dois.
Entrega o pré-sal quando muda a lei e a Petrobras com essa venda de ativos do seu
Pedro Parente (presidente da empresa).
·
Como está a
questão da venda dos ativos? Por exemplo, da BR Distribuidora?
Privatizar a BR, que é uma empresa
importantíssima, certamente vai deixar a Petrobras manca. A característica de
todas as grandes empresas de petróleo do mundo é que elas atuam de forma
integrada. Não atuam só num segmento da indústria. Ela tem que atuar em todos,
porque ora um segmento está mais rentável, ora é o outro. Quando você não tem,
por exemplo, uma grande distribuidora, você tem dificuldade porque as outras
podem não querer comprar de você. Você acha que a distribuidora da Shell vai
comprar de quem? Da Shell ou da Petrobras? Então, quando você vende a
distribuidora, você dança.
E outra característica. Nessa indústria,
quando você enfrenta períodos de petróleo em baixa, como agora – já esteve em
120 dólares o barril, agora está entre 50 e 60 – você ganha na venda de
derivados, no caso a venda das refinarias. Quando o preço sobe, você ganha
menos nos derivados e mais no óleo cru. Vender a BR, como Pedro Parente e Temer
estão anunciando, vai aumentar a dificuldade da Petrobras.
Eles já anunciaram que pretendem vender
Liquigás, a BR. Já venderam Carcará, alguns gasodutos, anunciam a venda de
refinarias e termoelétricas. É uma verdadeira bacia das almas. É um momento
muito duro da nacionalidade. Se o povo brasileiro não acordar, vai ter sérias
dificuldades para se recuperar. Levamos 63 anos para construir a Petrobras, 63
anos de muito suor, lágrimas e sangue, e estão indo pelo ralo. Tem que lutar
sempre, ir para as ruas, impedir que isso aconteça.
Fonte: Rede Brasil Atual
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