Trump e Putin
apontam nova era de prosperidade para o mundo
J. Carlos de Assis
Se a análise política de fundo vale
alguma coisa em confronto com a boçalidade dos comentaristas da TV Globo e
Veja, pode-se concluir que há grande probabilidade de o governo Trump trazer
para o mundo uma era de prosperidade econômica sem paralelo. Não falo da
política interna. Sinceramente, ela não me interessa. É que o suposto elemento
de regressividade prometida nesse campo pelo novo presidente será
contrabalançado, e até anulado, pelo fortíssimo movimento de defesa dos
direitos civis norte-americano.
O aparente enigma vem do exterior, e ele
já pode ser decifrado em vários aspectos. O principal deles está associado ao
caráter profundo da política externa dos Estados Unidos. É uma política estruturada em duas vertentes.
A primeira, econômica, visa essencialmente a abrir espaço para as empresas
norte-americanas no mundo. A segunda, geopolítica, visa à confirmação
recorrente do poderio militar do país, especialmente depois que apareceu diante
dele um rival com poderio nuclear capaz de desafiá-lo, a União Soviética e
agora a Rússia.
Tradicionalmente o comando da estratégia
norte-americana cabia a geopolíticos, que tinham ascendência sobre os
interesses econômicos. Houve exceções, é verdade, como a relacionada com a
política imperialista do petróleo. Acontece que petróleo desfruta de duas
naturezas, uma geopolítica, por ser um insumo fundamental em termos bélicos
convencionais, e outra econômica, pela importância universal de sua cadeia
produtiva. Em outras situações, o intervencionismo americano se deveu
exclusivamente à geopolítica, como na América
Central.
Agora, pela primeira vez na história
americana, tem-se um empresário – não um empresário comum, mas um
mega-empresário produtivo – no comando da estratégia nacional e imperial. O
capital produtivo – sim, é o que ele representa, não Wall Street – não será
representado pelos geopolíticos, mas atuará diretamente segundo seus
interesses. Muito provavelmente não serão inventadas guerras de honra, como a
segunda do Iraque, ou as múltiplas intervenções no exterior, como no caso da
chamada Primavera Árabe.
O fato é que, exceto para o complexo
industrial-miliar, guerra hoje em dia não dá muito dinheiro. A prova é o
sucesso econômico espetacular da China com módicos investimentos militares, em
comparação com Estados Unidos. Além do mais, sabe-se desde o plano militar
megalômano de Ronald Reagan que investimentos bélicos, num mundo de altíssima
tecnologia, gera poucos empregos. O material usado são chips, com uma dimensão
material muito menor do que a da antiga indústria bélica baseada em canhões,
tanques, aviões.
Trump, consciente ou não, vai aplicar
seu pragmatismo no espaço que abre para seu país uma real perspectiva de
crescimento: Rússia. A relação norte-americana com a China não promete muito
mais do que já deu. A indústria dos Estados Unidos está profundamente penetrada
em território chinês, e a ideia de fazer isso retroceder não se compatibiliza
com a visão pragmática de Trump. Ademais, boa parte dos investimentos
americanos na China é de norte-americanos vinculados ao Partido Republicano.
Mas por aí não dá crescimento.
Já a Rússia é uma terra virgem a ser
conquistada. Tão logo sejam levantadas as estúpidas restrições econômicas que
os “estrategistas” americanos impuseram ao país, Putin, ele também um pragmático,
abrirá as portas ao investimento dos Estados Unidos. Com os recursos naturais
que tem e com a mão de obra especializada herdada da União Soviética, a Rússia
é um território de conquista sem paralelo para o capital, revertendo sua
tendência secular à queda. A meu ver, estará aí o grande espetáculo econômico
do século XXI.
Não só isso. A Rússia é a Ásia profunda,
que se complementa com a China, a Índia, o Japão. Uma vez retiradas as
barreiras geopolíticas idiotas, essa megarregião poderá puxar o mundo para o
crescimento, inclusive o Brasil, neste caso se não tiver o terrível azar de ter
alguém tão inexpressivo na Presidência, como Temer, e alguém tão despreparado
para o cargo de Ministro das Relações Exteriores, como José Serra. E o azar
ainda maior de ter por trás deles algo tão desprezível como o sistema de
comunicação da Globo e da Veja.
Putin é um ás da estratégia. Tem dado um
baile nos geopolíticos americanos na Geórgia, na Ucrânia (Criméia) e na Síria.
Não perderá essa oportunidade de por a Rússia na trilha do crescimento. Há ali
toda uma infraestrutura do crescimento que está sendo preparada pela China, a
partir da Rota da Seda, assim como uma formidável estrutura de financiamento
que inclui Banco Asiático de Investimento, Fundo de Investimento da Rússia,
Fundo da Rota da Seda, Cia de Financiamento do Desenvolvimento da
Infraestrutura, Novo Banco de Desenvolvimento (BRICS). Diante desse aparato, só
continuaremos a aceitar condicionalidades especulativas
do Banco Mundial e do FMI se cometermos crimes de lesa-pátria.
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