quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Entrevista de Lula

Fernando Morais

Em entrevista ao cineasta americano Oliver Stone para o blog Nocaute, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre a caçada judicial a que está sendo submetido; "Temos uma guerra aqui no Brasil. No Brasil aconteceu um processo de violência contra a democracia. Há todo um trabalho de construção de uma teoria mentirosa para justificar o afastamento da Dilma e a criminalização do PT", disse Lula; "Eles trabalham com a ideia de tentar evitar que eu tenha qualquer possibilidade de participar das eleições de 2018", afirmou. O ex-presidente reafirmou que existe uma "combinação perfeita" da imprensa, da Policia Federal e do Ministério Público contra ele. "Só para você ter ideia, de março a agosto, o principal canal de televisão do Brasil, no seu principal jornal, teve 14 horas de matéria negativa contra mim".

Em visita ao Brasil para o lançamento de seu filme "Snowden", o cineasta norte-americano, ganhador de três Oscar, visitou o ex-presidente Lula, com quem almoçou e a quem entrevistou com exclusividade para o Nocaute. Participaram da entrevista o diplomata venezuelano Maximilien Arvelaiz e a intérprete Gala Dahlet.

Assista a entrevista:

Lula: Quando nós dois nos encontramos em Caracas, não, em Maracaibo, era um momento de muito otimismo na América Latina. Nós acreditávamos que estávamos construindo uma estrutura política mais prolongada. Mas aí veio a morte do Chávez, a morte do Kirchner, a minha saída da Presidência. E aí o trio que tentava organizar a América do Sul não existia mais. Foi uma pena. Uma pena. E eu sei que você tinha muita esperança, muita expectativa, mas precisamos começar tudo outra vez. Eu queria lhe dar os parabéns pelo novo filme, espero que tenha muito sucesso, como os outros. Bem vindo ao Brasil.

Oliver: Muito obrigado.

Lula: É uma pena que você veio muito mal acompanhado. (risos) O Max não é uma boa companhia.

Oliver: Ele me levou a restaurante muito barulhento ontem à noite. (risos) Eu gostaria muito de ver o senhor ser presidente novamente.

Lula: Olha, temos uma guerra aqui no Brasil. No Brasil aconteceu um processo de violência contra a democracia. Há todo um trabalho de construção de uma teoria mentirosa para justificar o afastamento da Dilma e a criminalização do PT. Eu fico pensando: não teria sentido eles darem o golpe parlamentar que deram e dois anos depois me devolverem a Presidência!

Eu acho que neste momento eles trabalham com a ideia de tentar evitar que eu tenha qualquer possibilidade de participar das eleições de 2018. E como eles não podem evitar a decisão do povo, eles estão tentando via Poder Judiciário. Há uma quantidade enorme de mentiras, as coisas mais absurdas, quem nem uma criança de parque infantil admitiria. E há uma combinação perfeita da imprensa, da Policia Federal e do Ministério Público que constroem, cada um a seu tempo, as mentiras. Só para você ter ideia, de março a agosto o principal canal de televisão aqui do Brasil, no seu principal jornal, teve 14 horas de matéria negativa contra mim. Em cinco meses.

Maximilien: Ele se refere à TV Globo.

Lula: E eu não sei como é que vai terminar, porque eu os tenho desafiado a provar que algum empresário tenha me dado dinheiro. Eu vou até pedir ajuda à CIA, para ver se conseguem descobrir uma conta minha no exterior. (risos) Agora, por falta de prova, eles dizem o seguinte: não peçam provas, porque o Lula criou um partido, esse partido é uma organização criminosa, o Lula indicou os ministros para roubar, portanto Lula é o chefe. Eu não tenho provas, eles dizem. Nós não temos provas, mas temos convicção. Então o que os deixa preocupados é que quando eles fazem pesquisa de opinião pública eu apareço em primeiro lugar para 2018. Então eu não sei como é que vai ficar. Por enquanto, paciência.

Oliver: o senhor tem grandes parceiros com quem pode contar, que lhe deem apoio?

Lula: Nós entramos com um processo nas Nações Unidas, em Genebra, temos um movimento sindical internacional fazendo campanhas de denúncias, e vamos trabalhar agora os processos juridicamente.


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